CLÉSIO ANDRADE GARANTE APOIO A DILMA E A ANASTASIA
O presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Clésio Andrade (PR-MG), assume a vaga no Senado aberta com a morte de Eliseu Resende (DEM), deixando clara sua posição como integrante da base da presidente Dilma Rousseff (PT), mas, ao mesmo tempo, se colocando à disposição do governador Antonio Anastasia, do PSDB, partido de oposição ao Palácio do Planalto, para tratar dos “interesses de Minas Gerais”. Dissidente, Clésio defendeu a candidatura do senador Hélio Costa (PMDB) ao governo do estado nas eleições de outubro, enquanto seu partido se juntou ao PSDB na disputa pelo cargo.
Clésio garante que terá bom relacionamento com os colegas mineiros de bancada, o ex-governador Aécio Neves (PSDB) e o ex-presidente da República Itamar Franco (PPS). Afirma, no entanto, ser impossível voltar a se alinhar ao tucano, de quem foi vice-governador (2003/2006). Ao ser questionado sobre a possibilidade, diz: “Em hipótese nenhuma. Temos uma mineira hoje na Presidência da República. Temos que respeitar isso. E, com certeza, a mineira Dilma, sendo novamente candidata em 2014, temos que apoiá-la. Agora, diálogo com o Aécio, com certeza. Tenho respeito e admiração muito grande pelo ex-governador Aécio. Vamos ter sempre que conversar, sobretudo no que diz respeito a assuntos referentes a Minas Gerais”.
Em duas ocasiões o senhor foi indicado suplente de senador, uma do candidato Francelino Pereira (1995) e outra de Eliseu Resende (2006). Tentou articular ainda, no ano passado, a suplência de Fernando Pimentel. O senhor tem longa trajetória política e recursos financeiros. Por que ainda não tentou uma candidatura ao Senado?
Havia um acordo na bancada para apoiar minha candidatura ao Senado. Mas, pela sobrevivência política, deputados federais nossos tiveram que apoiar o governador Anastasia. Eu seria o segundo candidato ao Senado na chapa de Hélio Costa (PMDB) se o PR seguisse esse caminho. Naquele momento (com o PR apoiando a chapa encabeçada por Anastasia), o próprio Aécio teria muita dificuldade em me colocar como segundo candidato a senador. E é bom colocar também, e o nosso senador Itamar Franco pode confirmar: o Aécio tinha compromisso com o Itamar em 2006 para o Senado. E Itamar não conseguiu se viabilizar. Provavelmente, Aécio transferiu esse compromisso para 2010. Então, não foi possível que eu saísse candidato (na chapa do PSDB) e isso Aécio me informou em janeiro do ano passado, na última conversa que tivemos. Então, como os deputados do PR haviam fechado conosco esse acordo, que eu seria candidato a senador, tentamos construir a aliança com a base do presidente Lula, que era a aliança em que eu também acreditava, mas não foi possível viabilizar. Nunca fui candidato à suplência de Pimentel. Até porque, legalmente, não poderia. Você não pode ter duas suplências. O suplente de Pimentel seria o deputado federal José Santana, que depois declinou do convite e se juntou aos seus companheiros para apoiar a candidatura de Anastasia.
O senhor formará bancada no Senado com Aécio Neves e Itamar Franco, que estavam em lado oposto ao seu na campanha presidencial. Qual relacionamento o senhor pretende manter com ambos?
De extrema cortesia. Acho que tanto o Aécio quanto eu somos gratos ao senador Itamar Franco. Foi ele quem elegeu o Aécio. E me elegeu vice nas eleições de 2002. Ele era o governador do estado. É uma pessoa que prezo muito. E com Aécio tive convivência muito boa quando fui vice dele. Nos sete anos que tive proximidade grande com ele, quatro como vice-governador e três ajudando naquilo que eu pudesse, foi uma relação muito boa. Como senador, estarei à disposição do que for de interesse do Brasil e de Minas Gerais. Nada impede que tenhamos uma boa relação com o governo do estado, mas faço parte da sustentação à presidente Dilma Rousseff. Fui oposição em Minas. Perdemos as eleições e quem perde eleição não participa de governo. Estou disposto a ajudar o governo do estado. A principal liderança de Minas hoje é o governador do estado, como Francelino Pereira e Tancredo Neves já afirmavam. Aécio tem um papel importante a desempenhar, que é liderar a oposição, e vai ter que trabalhar muito para isso. Até porque o principal nome do PSDB continua sendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Tem ainda o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o ex-governador José Serra e o senador eleito por aquele estado Aloysio Nunes.
O cenário de 2006, quando ficou acertado que sua esposa, Adriene Barbosa, seria a candidata ao Senado na chapa que tinha Aécio como candidato à reeleição, e a substituição dela por Eliseu Resende, por pressão do Democratas (ex-PFL), teve influência na sua relação atual com o ex-governador? O senhor também encabeçou no ano passado o Pimentécio, que defendia o ex-prefeito de BH Fernando Pimentel e Aécio para o Senado. A ideia desagradou ao tucano. Seria outro motivo para prejudicar o relacionamento entre vocês dois?
A boa relação existe. Até porque a grande verdade que ocorreu em 2006, e fica muito clara a minha posição, e tenho certeza que o Aécio vai concordar, é que o candidato ao Senado era eu. Aécio insistia e reforçava que eu tinha que ser o candidato a senador. Naquele momento falei com ele que não era minha vontade pessoal. Depois de algumas conversas é que surgiu essa alternativa. Já que você se dispõe a colocar um nome do PR, então eu indico a Adriene. Aécio disse que era uma grande alternativa e perguntou: ‘Te atende?’ Afirmei que sim e disse que ela poderia ser uma grande senadora. Alguns dias depois, a Adriene começou a reavaliar. Achou que familiarmente para ela não seria uma boa ir para Brasília. E, coincidentemente, surgiu aquele momento do PFL (hoje Democratas). Então ela não foi retirada. Foi uma alternativa, uma costura. Tanto que ela virou conselheira do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, ou seja, é uma pessoa realmente preparada.
Alguns tucanos têm afirmado existir a possibilidade de o senhor se afastar da base de Dilma Rousseff e se alinhar a Aécio Neves, pelo fato de já ter sido vice do ex-governador. Isso pode acontecer?
Em hipótese nenhuma. Temos uma mineira hoje na Presidência da República. Temos que respeitar isso. E, com certeza, a mineira Dilma, sendo novamente candidata em 2014, temos que apoiá-la. Agora, diálogo com o Aécio, com certeza. Tenho respeito e admiração muito grande pelo ex-governador Aécio Neves. Vamos ter sempre que conversar, sobretudo no que diz respeito a assuntos referentes a Minas Gerais.
Qual o principal desafio no Senado?
É poder contribuir com Minas Gerais. Sempre que se representa Minas Gerais é um peso muito grande. Dentro desse conceito acho que é o maior desafio. Até porque o estado tem muita necessidade de investimentos federais. Especificamente para a área em que eu trabalho, de transportes, Minas tem 22% da malha rodoviária federal. Daí você vê a importância de Minas. Desde a época de Juscelino Kubitschek, na construção das principais estradas do país, quase todas passam pelo estado. Porque ele era mineiro e também era uma forma mais central de construir a Rio-Bahia, por exemplo, e outras estradas. Com isso a economia mineira ficou muito centrada no transporte rodoviário feito por estradas federais. Ao todo, 80% da economia mineira transitam por essas rodovias.
O que o senhor acha que os parlamentares precisam fazer para evitar tanto desgaste perante a opinião pública?
O Congresso Nacional, o Parlamento representa o povo brasileiro. Nessa condição, você tem ações positivas, a favor do povo e também ações que fogem a essa questão. O que a gente tem que trabalhar lá é que essas ações positivas predominem no Congresso Nacional, principalmente no Senado. Se a gente for para o Senado com o objetivo de praticar boas ações, acredito que a política pode ter muito valor. Outro ponto que acho importante é que o Congresso precisa construir uma forma melhor de se relacionar com a imprensa. Acho que o parlamentar não consegue demonstrar o que faz. O que faz para a sociedade, o que faz para o Brasil, o que faz para o estado. Mostrar o tanto que ele trabalha. Falar que o parlamentar não trabalha não é verdade. Ele sai dali, vai para os interiores, vai para as suas bases, discute com prefeitos, vai trabalhar arrumando verba...
Causa algum constrangimento chegar ao Senado devido à morte de um parlamentar da Casa?
Tenho um pesar profundo. Acho que o Eliseu, diferentemente do que algumas pessoas possam achar, era uma pessoa extremamente próxima de todos nós, principalmente do setor de transportes. Foi uma das pessoas mais importantes do setor neste país. Recebi a notícia com muito pesar. Isso é o que precisa ser colocado. Agora, a vacância do cargo, a sucessão, é uma questão constitucional.
Fonte: http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2011/01/06/interna_politica,202219/clesio-andrade-diz-que-sera-cortes-com-aecio-mas-que-nao-sera-oposicao.shtml
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